Letras, em tempo de Números

Poeta destacado entre os demais do seu tempo, Guerra Junqueiro é considerado um dos maiores vultos da poesia do nosso país e o mais reconhecido poeta transmontano.

A vida e obra deste mestre das letras, entre outras facetas não menos importantes, merecerá um artigo próprio neste blog, mas desta vez deixo apenas um dos seus mais conhecidos poemas, incluído na sua obra Finis Patriae, editada em 1890, onde aborda a dureza da vida de muitos dos portugueses (a maioria, infelizmente) dessa altura.

Nos tempos de hoje, em que os números dominam o nosso quotidiano, faria bem olhar mais para as letras. As letras Humanizam, os números Escravizam.

Falam Pocilgas de Operários

Crianças rotas, sem abrigo…
A exerga é pobre e a roupa é leve…
Quarto sem luz, mesa sem trigo…
Quem é que bate no meu postigo?
– A Neve!

A usura rouba a luz e o ar
E o negro pão que a gente come…
Inverno vil… Parou o tear…
Quem vem sentar-se no meu lar?
– A Fome!

Lume apagado e o berço em pranto
Na terra húmida, Senhor!
A mãe sem leite… o pai a um canto…
Quem vem além, torva de espanto?
– A Dor!

Álcool! Veneno que conforta,
Monstro satânico e sublime!…
Beber! beber.. e a mágoa é morta!…
Quem é que espreita à nossa porta?
– O Crime!

Doze anos já, e seminua!
A mãe, que é dela?… O pai no ofício…
Corpo em botão d’aurora e lua!…
Quem canta além naquela rua?
– O Vício!

A fome e o frio, a dor e a usura,
O vício e o crime… ignóbil sorte!
Ó vida negra! Ó vida dura!…
Deus! quem consola a Desventura?
– A Morte!

O Mirandez nas bocas do mundo

É verdade, parece que o The New York Times veio descobrir a língua falada no recanto Mirandez. No artigo, para além dos lugares por onde passou (Miranda do Douro, Sendim, Malhadas, Paradela e Vale de Aguia) o autor faz também referência a algumas pessoas com quem contactou e se foi cruzando, não esquecendo – como seria inevitável – a gastronomia.

A todos que ainda não conheçam esta bela região, fica o convite:

http://frugaltraveler.blogs.nytimes.com/2012/01/17/in-portugal-mirandese-spoken-here-and-only-here/

Auto-estrada Encravada

Parece que a tão desejada Auto-estrada Transmontana (A4) vai ficar encalhada logo a seguir à fonteira de Quintanilha.

Desta vez Portugal adiantou-se aos “Nuestros Hermanos” e vai conseguir (esperemos que sim, a menos que haja mais um PEC que venha abortar a restante obra que está por nascer) concluir a ligação até à fronteira até meados de 2011, não havendo ainda previsão para a construção da ligação de Quintanilha a Zamora (a designada A11).

Assim, vamos ter uma Auto-estrada que, não obstante a sua grande utilidade para os transmontanos, vai esbarrar numa estradita com uns exíguos 7m de largura. E enquanto esta situação se mantiver, dificilmente esta via poderá constituir o que está na base da sua concepção – ser o eixo rodoviário fundamental de ligação do Norte de Portugal à Europa.

O regozijo de estarmos à frente dos espanhóis depressa esbarra (tal como a nossa Auto-estrada) numa outra questão: então para que servem essas cimeiras ibéricas em que se servem tantos almoços? Será que depois do TGV, dos negócios da Telefónica, do Santander, das fábricas da Pescanova, etc… não haveria um espacinho para se acordar a conciliação dos prazos para a conclusão deste eixo viário dos dois lados fronteiriços?

A nós, transmontanos, nem sequer nos serve de consolo a constatação de que vamos ter Auto-estrada antes dos nossos vizinhos do outro lado da fronteira, pois sabemos bem que eles, apesar disso, têm rendimentos superiores aos nossos, vivem num país que não está tão endividado como o nosso, tem um nível de desenvolvimento (no sentido lato) um pouco superior ao nosso.

Disto tudo, resta uma conclusão inquietante: quando nós, transmontanos, nos queixamos de sermos constantemente esquecidos e preteridos pelos nossos governantes, parece que encontramos os nossos homólogos no país vizinho, e eles estão mesmo aqui ao nosso lado… pertencemos todos a uma região esquecida!

Carrazeda de Ansiães: “Terra com Marcas do Tempo”

Carrazeda de Ansiães é uma vila pertencente ao Distrito de Bragança, Região Norte e sub-região do Douro. É sede de um município subdividido em 19 freguesias e limitado a norte pelos municípios de Murça e de Mirandela, a nordeste por Vila Flor, a leste por Torre de Moncorvo, a sul por Vila Nova de Foz Côa, a sudoeste por São João da Pesqueira e a oeste por Alijó.

O concelho tinha sede na antiga vila de Ansiães; as suas ruínas, a sul da actual sede concelhia, situam-se no alto de uma colina, perto da aldeia de Lavandeira. O concelho obteve foral em 1075, tendo o estatuto de vila sido confirmado por alvará de D. João V de 6 de Abril de 1734. No século XIX a sede concelhia foi transferida de Ansiães para Carrazeda, e a antiga vila foi abandonada.

Vista Aérea do Castelo de Ansiães

Igreja Românica de S. Salvador, situada dentro das muralhas de Ansiães

Pela riqueza humana, histórica e paisagística que o caracterizam, o concelho de Carrazeda de Ansiães tem muito para dar a quem o queira conhecer.

A diversidade da paisagem, marcada pelos Rios Douro e Tua, a rudeza do Norte granítico e a doçura dos vinhedos do Sul, que abraçam o Douro, Património da Humanidade, proporciona o deslumbramento da Natureza, no seu estado puro.

A acompanhar as inegáveis condições naturais, a riqueza dos produtos agrícolas, da gastronomia e a hospitalidade são, sem dúvida, garantias de que vale a pena visitar este concelho.

Neste contexto situa-se um vasto património arqueológico que urge preservar e potenciar, com vista à promoção das condições necessárias a um verdadeiro turismo cultural.

A zona foi habitada desde tempos remotos, existindo alguns monumentos megalíticos em todo o concelho, de que são exemplo as antas de Zedes e de Vilarinho de Castanheira.

Anta de Zedes

Anta de Vilarinho de Castanheira, também conhecida como Pala da Moura

 

Saiba mais sobre o Castelo de Ansiães:

Conheça as principais atracções deste concelho, através deste Roteiro, com algumas sugestões sobre o património cultural e natural:

 

Veja o vídeo promocional do património do concelho de Carrazeda de Ansiães: clique aqui

 

Fonte: Centro Interpretativo do Castelo de Ansiães

 

Traz-os-Montes em 1850

Na publicação Diccionario geographico das provincias e possessões portuguezas no Ultramar, editada em 1850, é feito um pequeno resumo das principais características das várias regiões de Portugal. Eis o que é referido sobre a Provincia de Traz-os-Montes:

«Tomou esse nome da circumstancia de ser attravessada do Sul ao Norte por uns montes mui altos, que da Galliza se dirigem até o Douro, os quaes parece que estão cercando a provincia do Minho, e que por isso, dão áquella a apparencia de estar por detráz dos montes. Confina esta provincia, ao Norte com a Galliza, ao Oeste com a província do Minho, ao Sul com a Beira, e a Leste com Castella. As estadísticas do Ministério do Reino attribuem-lhe 337 léguas superficiaes.

O seu clima é extremamente frio de inverno, que alli dura nove meses, e extremamente calido de verão, que alli dura tres meses, com um calor ardentissimo por não ser temperado pelas virações do Norte, que lhe interceptam as montanhas, que são por tanto a causa tanto do extremo frio, como do extremo calor. Apesar desta irregularidade nas estações, não se póde accusal-a de pouco fertil pois que produz 284:067 moios de cereaes e legumes, alem de muita castanha e outras fructas, assim como 95:149 pipas de vinho maduro, e 10$ pouco mais ou menos de vinho verde; e 4:592 pipas d’azeite.

Regula a sua população por 336:413 habitantes, o que corresponde a 998 por legoa. Os homens são em geral corpulentos e robustos, mui valentes na guerra e honrados no tracto, de genio indómito, mas mui affaveis, e alem disso dotados de muito apego ai seu paiz natal de que se não affastam sem grande custo: as mulheres ajudam seus maridos e pais não so nas tarefas domesticas, mas também no trabalho dos campos, e são communmente recatadas donzellas, e esposas leaes.

Regam esta provincia diversos riachos e ribeiros, e alguns rios, de que 24 são os mais affamados, sendo entre estes os principaes: Beça, Sabor, Cargo e Tua. Tambem tem boas aguas, menos em Miranda e Bragança, onde são pessimas. É saudável, menos nas terras que mencionamos, e em Chaves, onde há muitas sezões, a que no paiz chamam maleitas. Alem destas aguas conta 43 fontes que são medicinaes. As suas maiores Serras são as do Marão e Mattosinhos.

O Commandante da 5ª Divisão Militar, que é a que corresponde a esta Provincia, tem o seu Quartel General em Chaves, praça forte fronteira, a qual contudo se acha arruinada; e alem desta algumas outras ha na Provincia que são de menos importância, e que por brevidade se ommittem.

Desta Provincia se compuseram os Districtos Administrativos em que foi dividida, os quaes tomaram os nomes de suas capitaes, e são:

Districto Administrativo de Bragança. Capital a cidade deste nome, que partilha com a de Miranda a honra de servir de residência ao Bispo da Diocese, que é safraganeo de Braga, com perto de 19 $ habitantes. Consta este Districto de 19 Concelhos e 311 freguezias com 138:118 habitantes. Nascem annualmente neste Districto perto de 4:413 creanças; morrem 2:784 pessoas, celebram-se 771 casamentos.

(…)  

Districto Administrativo de Villa Real. Capital a Villa deste nome que tem 30 $ habitantes pouco mais ou menos. Consta este Districto de 25 Concelhos com 260 freguezias e 198:295 habitantes. O número de creanças que nasce annualmente é de 5:280; morrem 3:550 individuos, e fazem-se 968 casamentos.»

MONTEIRO, José Maria de Sousa, Diccionario geographico das provincias e possessões portuguezas no Ultramar, 1850, Lisboa.

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Cortiços

Cortiços é uma freguesia do concelho de Macedo de Cavaleiros, com 24,72 km² de área e 417 habitantes (2001). Densidade: 16,9 hab/km².  

 Foi vila e sede de concelho até meados do século XIX. Era constituído pelas freguesias de Cortiços, Romeu e Cernadela e tinha, em 1801, 652 habitantes. Após as reformas administrativas do início do liberalismo, o município passou a incluir também as freguesias de Amendoeira, Pinho Velho e Gradíssimo, Bornes de Monte Mel, Burga, Carrapatas, Corujas, Grijó, Lamas de Podence, Macedo de Cavaleiros, Sezulfe, Vale Benfeito, Vale de Prados, Caravelas e Vale de Asnes. Tinha, em 1849, 5 193 habitantes.